28 de setembro de 2010

"A Digna Companhia" no caminho do CÉU

Hoje, 28 de setembro, a Digna Companhia levou a performance "Desencontro" ao CEU Paraisópolis pelo projeto "Vocacional Apresenta".
Nossa performance foi marcada para o horário de saída das escolas de educação infantil e ensino fundamental, as crianças não esperavam o que estavam por ver, não sabiam nem sequer que estaríamos alí e nós entramos no meio do espaço delas. Duas mulheres de roupa estranha, de maquiagem esquisita, se movimentando sem parar, uma com um guarda chuva e a outra com uma mala, dizendo palavras difíceis de entender.
O primeiro a se manifestar foi um pai, que repetia sem parar:
"Quer uma força aí moça, quer uma força com a mala?" e ria meio nervoso...
Aos poucos as crianças foram se chegando, dois grupos se formaram bem próximos a nós, de longe alguém gritou: "Olha a tartaruga!", uma criança mais perto disse: "Ela é doida", e assim, em poucos minutos a surpresa teve efeito e eles começaram a reagir ao que viam, algumas olhavam PERPLEXAS, mas na maioria deles o que despertamos inicialmente foi agressividade.
Para a mala foram primeiro palavras, que não respondidas viraram ações: tapas, murros, puxões (na mala) até o extremo momento em que um menino correu com ela (mas voltou), com a Helena e o guarda chuva não foi diferente, empurrões e mochiladas...
Aos poucos a agressão diminui, as crianças se abriram mais para o que estávamos fazendo e foi MARAVILHOSO! A estranheza se misturou com uma curiosidade muito grande, uma vontade genuína de compreender aquilo tudo: o que? porque?
Um menino dizia: "Você está possuída em nome de Jesus!", a menina repetia sem parar: "Tia você é doida ou quer um real?", um grupo pequeno berrava "AGORA VAMOS LÁ, VER A OUTRA" e as crianças iam e vinham correndo pelo espaço, percorrendo e prevendo o percurso da performance, tendo a imagem que nenhum adulto conseguiria a não ser no vídeo editado, de uma vindo e da outra indo, e dos nossos caminhos se aproximando, aos poucos começaram a prestar atenção às palavras e repetí-las e questioná-las, tentando entender as palavras "perplexas", "abismo", "lanham", "insultos", "assombro" e dialogando com as palavras que entendiam:
Eu: Palavras
Eles: sílabas, matemática...

Assim fomos até quando nos encontramos, Eu, Helena, mala, guarda-chuva e um monte de crianças eufóricas, alí no meio. Abriu-se uma roda e enquanto corria a coreografia silenciosa e simultânea, o burburinho diminuiu, o texto ainda precisou de muito diafragma para ser ouvido, mas ALÍ eles estavam CONOSCO, a maneira deles, e agora em definitivo. Duas menininhas discutiam quem era a mais bonita e não conseguiam se decidir (compensou o primeiro menino que disse que a mala era feia e que eu era FEIA!)seguimos nossos caminhos e eles vieram conosco escolheram suas direções e seguiram repetindo o texto, imitando os movimentos da mala com suas mochilas e do guarda-chuva com um guarda chuva que alguém tinha ou qualquer coisa que fizesse a vez.
Alguns queriam saber os nossos nomes e pergutavam para Helena:

Menina: "Qual seu nome?"
Helena: "Desencontro"
Menina: "Oh, o nome dela é Desencontro!"

Outra menina: "Qual seu nome, tia?"
Helena: "abismo"
Outra menina: "Sabisma? O nome dela é Sabisma"

Momentos poéticos e diálogo com o texto como a menina que preocupada me perguntou:
"Mas porque você está assim? é o Encontro, não é o Desencontro"

Outros começaram a ficar curiosos sobre o que havia dentro da mala, e começaram a especular:
" Tem bala tia?"
" Tem maconha? Tem maconha, tem maconha!!!"

Terminamos a performance com as crianças nos seguindo até o último segundo e sentamos para um bate papo adorável com elas.
O menino que correu com a mala explicou seu sentimento, "A mala é velha, é feia" disse que correu com ela porque ia jogar ela fora, quando perguntamos ele afirmou que ele não tinha nada velho. Duas crianças contaram suas experiêncas no palco também, disseram que faziam Hip Hop e já tinham se apresentado como nós. Eles refletiram sobre o peso da mala e a levesa do guarda-chuva, reproduzindo os movimentos da mala e dizendo que o guarda-chuva ia tão alto que dava prá voar...
As perguntas mais importantes para eles eram:
"O QUE TEM DENTRO DA MALA?" e "VOCÊS SÃO GÊMEAS?"

Foi um momento delicioso de descontração depois de toda a tensão do início, pudemos falar sobre o que eles pensavam do que viram, tentar processar o que eles sentiram, e talvez abrir mais um espaço para um tipo de manifestação que eles ainda não conheciam, que sabe até, espero que tenhamos conseguido tocá-los, já que afinal é a isso que nos propomos!
Fizemos a performance em tempo bem reduzido, a Dresler que é de uma generosidade impar, foi até lá de ônibus prá nos fotografar e quase não conseguiu, porque na tensão apertamos o passo e de 40 minutos fizemos tudo em 20!
Talvez o texto não seja tão "doce" ou "luminoso" quanto o que se espera para crianças, mas
"As vezes é no Desencontro que as almas se revelam, quando se ferem, se lanham... e se tocam no mais fundo"

MUITO OBRIGADA PARAISÓPOLIS! Até a próxima!!!
Ana Vitória Bella

Um comentário:

  1. Muito interessante ... deve ter sido uma experiencia inesquecivel.....mais uma vez parabens!!!

    ResponderExcluir